Parque Tecnológico – São José dos Campos é destaque em revista editada pela Duetto Editorial e Anprotec. Objetivo da publicação é estimular o desenvolvimento de parques tecnológicos no Brasil
Ambiente de inovação
Pesquisas de ponta e negócios se integram em São José dos Campos
Décadas de investimento em universidades combinadas à presença de grandes empresas garantem o fluxo de pesquisa e desenvolvimento
Empreendedorismo, inovação e pesquisa tecnológica são conceitos fundamentais para São José dos Campos. A cidade, com 658 mil habitantes, apresenta números invejáveis no que se refere a centros de pesquisa de excelência e presença maciça de mestres e doutores. A Capital do Avião se destaca no cenário socioeconômico brasileiro com taxa de alfabetização de 96,4% na faixa etária acima de 15 anos da população e 27 mil empresas formais instaladas que oferecem quase 180 mil empregos com carteira assinada. Isso se traduz em um PIB per capita de R$ 30.195,00. Em 2009, São José dos Campos foi classificado pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) como o terceiro maior município exportador do Brasil.
A origem dessa realidade remonta à década de 50 com a fundação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e foi se consolidando após a instalação da Embraer – então uma empresa estatal – no início dos anos 70, que surgiu capitaneada por Ozires Silva, seu primeiro presidente e um dos precursores da indústria aeronáutica no Brasil.
O processo de desenvolvimento recente foi implantado em 1997, quando o então prefeito Manuel Fernandes, preocupado com o esvaziamento econômico da cidade, começou um movimento propulsor de novas ideias com a finalidade de vitalizar a atividade econômica local. O problema se tornara crítico, provocado pela saída de grandes e tradicionais empresas da região. Kodak e Alpargatas, entre outras, deixaram a cidade devido à ausência crônica de um arcabouço tecnológico e das carências então existentes de mão de obra qualificada no setor de pesquisas tecnológicas. E, acima de tudo, de uma mentalidade empreendedora moderna pautada por conceitos de inovação, competitividade, negócios e produtividade.
O caminho para a construção da mentalidade inovadora e empreendedora deu-se com a proposta de construir um parque tecnológico municipal em uma região geograficamente próxima ao sistema rodoviário local, nas rodovias Dutra e Ayrton Senna. “A ideia consolidou-se na gestão do prefeito Eduardo Cury, com o objetivo de construir um parque tecnológico de excelência nos moldes do Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA). Um projeto de longo prazo que exigiu investimentos municipais diretos superiores a R$ 70 milhões em desapropriações e obras de infraestrutura”, explica o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia, José de Mello Correia.
Mais que isso, segundo Correia, a municipalidade passou a atuar em toda a cadeia educacional, desde a creche e a pré-escola até a universidade, atraindo entidades de pesquisas e ensino de ponta, que vieram figurar ao lado do ITA, no cenário de formação de excelência de que hoje a cidade desfruta. Essas novas instituições, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Faculdade de Tecnologia do Centro Paula Souza (Fatec), compõem o lado educacional do ambiente de inovação local. Paralelamente, a Universidade do Vale do Paraíba (Univap) impulsionou um segundo projeto de parque na cidade, com a criação do Parque Tecnológico da Univap.
“Nosso parque tecnológico está alinhado com as métricas que definem os parques tecnológicos multissetoriais no mundo. Isso porque as empresas que estão lá são capazes de produzir novas tecnologias e manter um dos fundamentos básicos de um parque tecnológico, que é o de ser capaz de criar sinergias entre diversos setores da economia”, afirma Marco Antônio Raupp, diretor geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos.
Raupp confirma que a mentalidade empreendedora do parque e a estrutura educacional oferecida pela cidade proporcionam a transferência de tecnologia e conhecimentos entre as empresas que lá estão estabelecidas. Segundo ele, a intenção do parque é fazer com que as empresas atraídas tragam sempre novas capacitações, formações de recursos humanos e parcerias com as que já existem. O executivo cita como exemplos alguns dos centros de pesquisas instalados no parque: Centro de Energia, Centro Aeroespacial e Centro de Biomedicina.
O Parque Tecnológico apresenta um quadro de investimentos até agora em torno de US$ 1 bilhão, sendo cerca de 40% obtidos com o setor privado e 60% com o setor público. O dinheiro vem basicamente de linhas de fomento do BNDES e da Finep ou de grandes corporações como Vale, Embraer, Sabesp (estatal paulista) e Bovespa.
No plano administrativo, o parque é gerido pela Associação Parque Tecnológico de São José dos Campos, com personalidade jurídica própria e independente do poder público municipal. A entidade não tem fins lucrativos e qualifica-se como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Sua função principal é regular, articular e fiscalizar as atividades implantadas. Esse detalhe pode ser observado na estrutura do parque: cinco grandes empresas compõem o Centro de Desenvolvimento de Pesquisas (CDP), 27 integram o Centro Empresarial e 15, a área das incubadoras, estas agregadas ao Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi). Sem contar os diversos centros de pesquisas e universidades como as já citadas Unifesp, Fatec e Unesp, além de iniciativas como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Em termos de setores, o ambiente tecnológico e de inovação conta com empresas que pertencem a segmentos diversos. Assim, encontram-se companhias das áreas de novos materiais, sistemas embarcados, sistemas inerciais, geoprocessamento, geração de energias, biomédica e informação e comunicação.
Todas essas empresas têm elevados índices e orçamentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que lhes confere grande capacidade de inovação e, por consequência, competitividade e modernidade. Na perspectiva de crescimento para os próximos cinco anos, o parque, que ocupa uma área de 12,5 mil m², se expandirá por meio de parcerias tecnológicas integradas a suas áreas estratégicas: aeronáutica, espacial, defesa, energia, meio ambiente e biomédica, gerando 20 mil novos postos de trabalho.
Os Parceiros
Uma característica das empresas que operam com alta tecnologia está no fato de a concentração local (cluster), criando uma boa sinergia, ser um elemento importante para a competitividade do negócio. São José dos Campos é um dos casos únicos de cluster industrial de alta tecnologia do Brasil, congregando todos os elementos que caracterizam essa aglomeração: a existência de empresa-âncora, empresas das cadeias verticais e horizontais, órgãos governamentais e regulatórios e instituições provedoras de recursos. Isso fomenta um ambiente ímpar para que ocorra a inovação industrial.
Explica-se, assim, o fato de dois dos maiores conglomerados empresariais brasileiros privados – Vale Soluções de Energia (VSE) e Embraer – apresentarem os mesmos motivos para aderir ao projeto e decidir levar seus laboratórios de P&D para o Parque Tecnológico de São José dos Campos. “Essa aglomeração geográfica dos atores importantes, no mesmo cenário se caracteriza por ser uma economia de escopo – a riqueza do todo é maior do que a mera soma das partes –, constituindo assim o ambiente ideal para fazer convergir ideias e recursos na busca de oportunidades e no desenvolvimento de soluções inovadoras”, avalia Jorge Ramos, diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer.
Outro parceiro é a VSE, que tem programado um investimento inicial de US$ 720 milhões para sua instalação nesse espaço. Esse montante será aplicado nas instalações físicas e nos programas de desenvolvimento tecnológico. Desse total, US$ 320 milhões já foram investidos. Os recursos vieram dos acionistas e de financiamentos obtidos com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que vem oferecendo apoio às iniciativas da VSE.
“É importante ressaltar que esses financiamentos totalizam R$ 100 milhões, o maior investimento já feito pela Finep a uma empresa privada”, observa seu diretor-presidente. Há outros 27 parceiros atuando, hoje, na incubadora do parque, conhecido como Centro Empresarial. São empresas que, na sua maioria, têm seus núcleos de negócios pertencentes aos setores estratégicos que já operam no ambiente: aeroespacial, energias renováveis, eletroeletrônico e outros. Os empresários ligados a essas incubadas, com assessoria direta da Bovespa, iniciam neste segundo semestre seus primeiros contatos com o mercado de capitais.
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