No passado, a inovação ocorria nos países desenvolvidos. Os países em desenvolvimento eram apenas receptores. Mas isso vem mudando nos últimos dez anos. As inovações hoje chegam aos países desenvolvidos através das multinacionais dos emergentes _ou da adoção de suas inovações pelas empresas dos próprios países desenvolvidos, para sobreviver.
O diagnóstico é de Michael Reid, editor de Américas da “Economist”, e serve de ponto de partida para o seminário “(Brazil) Innovation: A revolution for the 21st century”, inovação Brasil, uma revolução para o século 21.
O evento reúne nesta quinta-feita no Rio os ministros de Ciência e Tecnologia do Brasil e da Argentina, empreendedores e especialistas brasileiros e da América Latina, além de personalidades como o chefe Almir, da tribo Suruí, e o músico Carlinhos Brown.
Segundo Reid, a inovação emergente tem vindo sobretudo da Ásia, de países como China e Índia, com a América Latina “bastante trás”, mas “isso está começando a mudar, sobretudo no Brasil e, eu diria, no Chile”. O Brasil já “tem um núcleo importante de empreendedores, cientistas, pesquisadores, em vários campos importantes, como biotecnologia, agrotecnologia, ciência genômica e outros em que há muita atividade na fronteira da inovação”.
Porém, “ainda que tenha avanços, o Brasil está começando de uma base muito fraca, se comparado com a Índia, a China ou os países desenvolvidos”. E o mais importante é ter consciência de que “nesse mundo de hoje, de paradigmas tecnológicos que mudam rapidamente, há muitas oportunidades em que os países não estão concorrendo com o seu passado: estão concorrendo com o mundo. Há muito a fazer”.
Boa parte das apresentações programadas para todo o dia, a partir das 9h15 no Planetário da Cidade, deve se concentrar nos diferentes papéis dos empreendedores privados e do Estado para o estabelecimento de ecossistemas de inovação. “A inovação é basicamente feita por empresas privadas ou instituições da sociedade”, opina Reid. “O papel do governo é criar as condições macro favoráveis para isso, melhorar a educação e a infraestrutura.”
Mais especificamente, respondendo sobre os “clusters”, centros de tecnologia que vêm surgindo no Brasil, diz que “o papel mais importante do governo é criar e fomentar universidades de classe mundial e facilitar as condições para que se tenha acesso a capital abundante e barato”.
Diz já existir, em várias regiões do país, “a densidade de boas universidades e cultura de empreendedorismo” necessária para estimular inovação.
De todo modo, “a ideia é ter um debate livre, não dar uma linha” aos debates e apresentações. Sobre a participação de personalidades externas à economia, lembra que “o chefe Almir entrou numa parceria com o Google, para fazer o monitoramento em tempo real do desmatamento, que é um exemplo de inovação”.
E que “é interessante que empreendedores tenham oportunidade de trocar ideias com pessoas que estão criando em outro campo, e vice-versa”.
Matéria publicada no jornal Folha de SP
Publicado em 10/5/2012 – Atualizado em 30/12/2020