13 empresas associadas já receberam a acreditação Nadcap
Segurança e confiabilidade são primordiais no setor aeroespacial. A fabricação de uma aeronave exige um processo rigoroso de validação, desde a manufatura das peças até a constituição final da fuselagem.
Os processos de validação são essenciais para garantir a qualidade da aeronave e evitar que problemas futuros aconteçam, já que, no setor da aviação, qualquer não conformidade no funcionamento pode ser fatal.
O National Aerospace and Defense Contractors Accreditation Program (Nadcap) é uma aprovação de processos exigida pela indústria aeroespacial em todo o mundo, a fim de melhorar a qualidade e reduzir custos de produção, mantendo os níveis de excelência nos setores aeroespacial e de defesa. Grandes clientes da cadeia fornecedora, como Embraer, Boeing e Airbus, exigem o selo para diversos processos.
Segundo Rodrigo Salgado de Azevedo, vice-presidente de Qualidade na Embraer, o programa Nadcap é a melhor forma de monitorar continuamente o andamento dos processos especiais, que são essenciais para a qualidade do produto. “As empresas acreditadas pela Nadcap são auditadas de forma padronizada por especialistas na tecnologia, fazendo com que as empresas melhorem continuamente os controles relevantes de processo, gerando qualidade de padrão mundial. A Embraer reconhece que a acreditação Nadcap é um diferencial competitivo na busca pela excelência”, comenta Salgado.
O PRI (Performance Review Institute), com sede nos EUA, é responsável pelo processo de Acreditação Nadcap e mantém um banco de dados para consulta das empresas já acreditadas, que atua como uma vitrine de fornecedores e é consultado pelos principais fabricantes aeronáuticos. “O Programa Nadcap é uma abordagem única e gerenciada pela indústria para a avaliação da conformidade que reúne especialistas técnicos da indústria e do governo para definir os requisitos do programa operacional, estabelecer requisitos para acreditação e credenciar fornecedores”, diz Jim Lewis, gerente sênior do PRI no Programa Nadcap.
Sempre com ações estratégicas para aumentar a competitividade das empresas associadas, o Cluster Aeroespacial Brasileiro, gerido pelo Parque Tecnológico São José dos Campos, criou em abril de 2018 o Programa de Acreditação Nadcap, para que as empresas associadas pudessem receber treinamentos, capacitação e orientação para conquistar a acreditação.
A primeira fase do programa, ainda em 2018, proporcionou otimização de recursos por parte das empresas, uma vez que algumas capacitações, treinamentos e consultorias foram realizadas em grupo, sob a coordenação do Cluster. Já a Fase II do Programa foi promovida em parceria com a Apex-Brasil, para aumentar a competitividade internacional do setor aeroespacial brasileiro. Os custos foram integralmente subsidiados pela Apex-Brasil e, em contrapartida, a as empresas participantes assumiram a responsabilidade de se certificarem.
Metodologia pioneira
Com uma metodologia pioneira em todo o mundo, o programa de Acreditação Nadcap desenvolvido pelo Cluster coloca o Brasil em destaque no mercado. “Não se tem notícia de outro programa Nadcap similar realizado desta forma não somente na América Latina, mas em nenhum outro continente”, afirma José Carlos Nogueira, diretor da South America Consultoria, parceira do Parque e contratada para acompanhar os processos de acreditação nas empresas associadas. “O programa colocou as empresas participantes entre as 20 primeiras empresas no mundo a receberem a Acreditação Nadcap na Commodity ASA, de um total previsto de 900 empresas no mundo segundo dados do PRI”, acrescenta Nogueira.
O programa Nadcap aconteceu em duas fases. A Fase I foi focado em Processos Químicos, NDT, Compósitos e Selagem (considerando apenas o checklist – AC7135/4). E a Fase II do Programa foi específica para a Commodity ASA (aero structure assembly adicionando mais 3 documentos além do AC7135/4). Desde o início do programa, já foram certificadas 13 empresas associadas: Aerocris, Alltec, GMP Marcatto, Inbra Aerospace, Pan-metal, Magnaghi, Serco, STB Aero, Tecplas, UFT, Vemax, WF Estruturas e Winnstal.
Com os resultados positivos obtidos nos processos de certificação, o Programa Nadcap do Cluster Aeroespacial se tornou um case internacional do PRI. “A acreditação em bloco de nove empresas foi de extrema importância para demonstrar que a cadeia produtiva nacional está à frente de muitos países no quesito de qualidade das entregas e atendimento ao cliente aeroespacial”, avalia Marcelo Nunes, diretor-geral do Parque Tecnológico São José dos Campos.
O PRI ressalta os benefícios do programa para o mercado e para as empresas acreditadas: “As empresas credenciadas se beneficiam de uma abordagem padronizada para garantia de qualidade e uma redução na auditoria redundante. A iniciativa Parque Tecnológico São José dos Campos e do Cluster Aeroespacial Brasileiro, portanto, permitiu que esses fornecedores se tornassem parte de um Programa que é reconhecido em todo o mundo”, comenta Jim Lewis.
Cases
Com a Acreditação Nadcap, as empresas estão aptas a se cadastrar e se qualificar para montagem de componentes mecânicos e estruturas de outros grandes players como Airbus e Boeing, Latecoere, Aernnova, Spirit, Alestis, entre outras, além de aumentar a competitividade mediante padronização dos processos de montagem, redução do índice de não conformidades, aumento da capacitação da mão de obra e possibilidade de aumentar a carteira de pedidos.
O Grupo Serco é uma das empresas acreditadas. Para Marcelo Moreira de Assis, diretor presidente, a parceria criada com o Cluster Aero foi de suma importância para toda a cadeia aeronáutica da região. “As empresas que puderam aderir ao programa estão hoje em um patamar de melhoria muito grande. Quando iniciamos com nossa primeira commodity – Processos Químicos “Pintura” – já percebemos que poderíamos aplicar o conceito a todos os demais processos na empresa. E assim o fizemos”, explica Assis. O grupo Serco também foi acreditado em montagem e está em processo para o Nadcap em tratamento térmico. “Podemos constatar nosso avanço e amadurecimento em todos os processos”, avalia.
A exigência das montadoras pela certificação deixou muitos fornecedores perdidos num primeiro momento. Por isso, o desenvolvimento de uma metodologia e de um programa customizado, como o do Cluster, foi fundamental para as adequações e conquista do selo.
Foi o caso da Aerocris. “Quando a Embraer passou a mencionar a necessidade de as empresas fornecedoras aprimorarem seus processos com a acreditação Nadcap, não tínhamos a menor ideia de como estruturar e começar o projeto”, lembra Dario Cristaldo, diretor da empresa. “A iniciativa do Cluster Aero em liderar esse projeto, capacitando e conduzindo as empresas, foi fundamental para todos alcançarem de forma eficiente o objetivo proposto”, continua. Para Cristaldo, além do benefício comercial, as adequações para a acreditação ainda geraram uma melhora substancial na qualidade do processo acreditado. Poderemos usar como padrão para replicar aos demais processos, fortalecendo assim a empresa como um todo.”
Nem mesmo a pandemia de Covid-19 interrompeu o programa e os processos de consultoria. A Vemax, com sede em Botucatu, é um dos exemplos das empresas que alcançaram a certificação durante o período de restrições. Para isso, contou com o suporte do time indicado pelo Cluster. “Foi fundamental para nos auxiliar na interpretação e diagnósticos periódicos de atendimento aos requisitos normativos. Apesar de todos os contratempos sofridos pela pandemia mundial na qual vivemos, o projeto foi concluído devido a determinação e dedicação da equipe e foi avaliado e homologado pela Embraer, certificado pela norma AS9100 e recentemente acreditado pelo programa Nadcap”, diz o diretor Marcus Vinicius Costa de Abreu.
Prazo recorde
A estrutura criada pelo programa Nadcap do Cluster colocou as empresas associadas dentro de um padrão internacional de atendimento aeronáutico. José Carlos Nogueira afirma que, quando o programa foi iniciado, não havia mais do que dez empresas acreditadas no mundo.
A metodologia criada pelo Cluster ajudou a otimizar recursos e tempo das empresas, porque contemplou workshops em grupo, consultorias individualizadas, orientações para ajustes na produção, entre outras iniciativas focadas na certificação. Dessa forma, mesmo com processos desenvolvidos recentemente e com prazos limitados, as certificações ocorreram com sucesso.
Outro desafio vencido foi o tempo estabelecido pelo programa para que o ciclo de adequações e certificação acontecesse: 12 meses no total. De forma geral, qualquer commodity tem a recomendação do PRI de preparação de pelo menos 24 meses. “Nós obtivemos sucesso preparando e acreditando as empresas participantes do projeto no tempo estabelecido de 12 meses”, celebra Nogueira.